terça-feira, 18 de outubro de 2011

Remédio para doença de Chagas poderá faltar nos próximos meses




A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) atenta para a possibilidade de, nos próximos meses, milhares de pessoas com mal de Chagas ficarem sem tratamento.  Isso porque o principal medicamento usado no combate à doença, o benzonidazol, está em falta.
O único produtor mundial do remédio é o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe), que suspendeu a produção por falta do princípio ativo utilizado na fabricação da droga.
“O Lafepe quebrou sua promessa de publicar – e respeitar – um calendário oficial de produção, para garantir a disponibilidade do medicamento”, afirma Carolina Batista, coordenadora da unidade médica da ONG Médicos Sem Fronteiras-Brasil.
Segundo a ONG, o problema provém de anos de atraso para tornar a produção nacional do remédio e do princípio ativo mais rápida, enquanto a demanda mundial teve um aumento expressivo.
Nova produção
Recentemente, a responsabilidade pela produção do princípio ativo do benzonidazol foi transferida para a empresa privada Nortec Química. Mas, por enquanto, não há substância suficiente para que os comprimidos necessários sejam produzidos. Além disso, a empresa ainda precisa validar a sua produção.
A ONG pediu ao Ministério da Saúde que medidas imediatas sejam tomadas para que o remédio volte a ser disponibilizado e que haja um comprometimento por parte do governo para que o processo de produção do benzonidazol com o novo princípio ativo seja acelerado, simplificando a validação pela Anvisa.
“O governo brasileiro tem sido pioneiro na produção de medicamentos genéricos, provando o seu compromisso com as pessoas que precisam de acesso ao tratamento. As autoridades agora têm que agir rapidamente para manter seu compromisso com os pacientes com a doença de Chagas em todo o mundo”, afirma Dr. Unni Karunakara, presidente internacional de MSF.
Pacientes sem tratamento
Por conta da falta de abastecimento do benzonidazol diversos programas de tratamento contra Chagas na América Latina já estão com dificuldades de atender a demanda por novos tratamentos, sendo forçados a retardar a oferta de cuidados aos pacientes. E, provavelmente, ficarão sem estoque da droga nos próximos meses.
Segundo a MSFO, o Ministério da Saúde não tem fornecido nenhuma informação sobre o que está acontecendo e a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) não estabeleceram um plano de contingência para manter o estoque de medicamentos para os casos agudos da doença.
Na Bolívia e no Paraguai, em áreas com muita incidência do problema, pacientes já pararam de ser diagnosticados porque não há medicamento para tratá-los, e esta situação é inaceitável, segundo Dr. Henry Rodriguez, coordenador de projeto de MSF.
“Durante décadas, Chagas foi uma doença completamente negligenciada, e justo agora que o diagnóstico e o tratamento estão sendo vistos como prioridades em alguns países, estamos sem medicamentos. Não podemos permitir que isso continue; pelo bem de nossos pacientes, precisamos encontrar uma solução urgente para esse problema”, afirma Rodriguez.
Todo o progresso obtido até o momento – com a inclusão, pela OMS e OPAS, do tratamento para Chagas como parte do atendimento dos serviços primários de saúde – está sendo prejudicado pela escassez do princípio ativo.
A produção, a distribuição e a entrada do medicamento no mercado irão levar, pelo menos, alguns meses. Portanto, onde a doença de Chagas é endêmica, como Bolívia e Paraguai, o uso do benzonidazol em estoque deverá ser racionalizado, com um plano de contingência.
A ONG também está pedindo aos Ministérios da Saúde destes países que exijam que esse plano seja posto em prática o mais rápido possível, e que, no longo prazo, seja encontrada uma solução definitiva para o problema.
Segundo estimativas da ONG, não há previsão para a disponibilidade futura do medicamento, e  dificilmente o benzonidazol estará disponível já no primeiro semestre de 2012.

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